domingo, fevereiro 04, 2007

Um pouco de história.

"Pavia já foi sede de concelho…A reforma administrativa da vila deu-se a 6 de Novembro de 1836,integrando em Pavia os extintos Concelhos de Águias, Cabeção e Mora. Esta situação manteve-se até 17 de Abril de 1838, data em que a sede do concelho de Pavia passa para Mora."
Assim consta na página da CMM que em tempos aúreos a Freguesia de Pavia já foi, Concelho de Pavia.
Este meu texto tem apenas como objectivo tentar o meu próprio esclarecimento, visto que, por muita procura realizada por mim ainda não consegui encontrar nenhuma razão para a sede de concelho ter sido "roubada" a Pavia e atribuída a Mora.
Se algum dos nossos estimados leitores souber a resposta a esta minha questão agradecia o esclarecimento da mesma.
"Diz um velho prolódio regional, que não se deve estar em Mora, nem uma hora, em Cabeção nem um serão e em Pavia, nem um dia. Com tudo isto, ao que parece se quis significar que das três vilas, Pavia seria a melhor."
Se assim era...porquê, porquê a mudança?!
Até somos a freguesia com maior área de todo o concelho!

4 comentários:

Anónimo disse...

Pois vou tentar explicar o melhor que saiba. A história do séc.XIX em Portugal é muito complexa. Em síntese: passámos de um regimen absolutista- o Antigo Regime- para um novo regime a que poderemos, por facilidade de exposição chamar constitucional.Tivemos a revolução de 1820 no Porto,estando o rei,D.João VI, ausente no Brasil devido ás famosas invasões francesas.Foi uma revolução que seguiu a corrente da época- em 1789 tinha-se dado a Revolução Francesa que inaugura a Idade Contemporânea. Foi questionado o poder divino do monarca e institui-se que o poder emana do povo. Isto por toda a Europa; o Mundo é eurocêntrico-( embora os futuros EUA já fossem independentes e os movimentos de Bolívar e José Marti estivessem a "criar" as repúblicas sul-americanas). O Brasil torna-se independente, como monarquia, em 1822. Temos assim que as ideias dos enciclopedistas franceses varreram a Europa- com Napoleão secundando militarmente estas ideias e, perversamente (ou não!) levando as novas ideias a quase toda a Europa. É derrotado em Waterloo em 1815. Em 1822 D.João VI outorga e jura a Constituição. O Mundo, muito simplesmente tinha mudado. Em Portugal e para este assunto em especial põe-se a questão da sucessão de D.João VI- D.Pedro IV ou D.Miguel? Entra-se em guerra civil.D.Pedro outorga uma Carta Constitucional em 1826.Este diploma vai informar o regimen monárquico até 1910- República.D.Pedro IV morre em 1834. A convenção de Évora Monte dá-se em 1834,assinala a derrota de D.Miguel e seu sequente exílio. D.Maria II reinará de 1834 a 1853.Durante a 1ª metade do séc.XIX, assistimos pois a revoluções e contra-revoluções em que são personagens de vulto pela positiva, ou pela negativa, uma nova aristrocacia-Palmela, Loulé, Saldanha, a Igreja, as Ordens religiosas,uma nova burguesia sedenta de poder. É o mundo de José do Telhado, de João Brandão, do Remexido- estes 3 ladrões tiveram praticamente autonomia respectivamente no Norte, Beiras e Algarve. A própria dinastia de Bragança nunca mais se entenderá quanto à legitimidade(até aos dias de hoje!). O poder judicial, como sinal de modernização vai-se autonomizando, embora muito lentamente. São extintos faseadamente os morgadios a partir de 1832- "leis de propriedade" de Mousinho da Silveira (só extintos definitivamente em 1863). O mundo é um outro, embora a diferentes velocidades para cada sector da sociedade.A Universidade e a Assistência pouco evoluriam no séc.XIX em Portugal, comparativamente com o resto da Europa. É em 31 de Dezembro de 1836 que é publicado o decreto fundamental regulador do poder autárquico( Mousinho da Silveira).Este vai regulamentar os concelhos, freguesias, distritos ou províncias. É de salientar que havia uma como que sobreposição a este sistema. Era a divisão eclesiástica em dioceses e paróquias. As primeiras ainda se baseavam em divisões do tempo romano. Ainda hoje, as dioceses não coincidem com os distritos. Ainda havia os territórios das abadias, colegiadas e conventos. Enfim, para a compreensibilidade das reformas administrativas ocorridas em Portugal de novecentos há que nos atermos a situações pontuais e conjecturais. Assim são "dinâmicas" as alterações produzidas. Ainda havia a acrescentar a divisão judicial. Para o nosso caso: em 1840 há DISTRITOS judiciais em Arraiolos, Estremoz, Chamusca e Benavente e comarcas em Montemor e Aviz. Só o regimen saído da revolução de 1926( mais uma) estabilizaria "quase" definitivamente divisões definitivas.Em concreto e exemplificando. Em 1805 eram concelhos na zona o das Águias,( com a povoação da Barroca das Brotas), Mora,Cabeção e Pavia.Em 1832 era Pavia concelho, tendo sido extintos os outros 3. Por muito pouco tempo. Já Mora agora era o único. Depois Montemor e Arraiolos disputaram, diga-se que com alguma base geográfica e demográfica a totalidade do concelho. Veja-se a "aberração" que constitui a antiga freguesia do Peso que ligava Coruche a Arraiolos( onde se encontram as actuais courelas dos Perais), situação criada por influências certamente exógenas ao concelho de Mora mas que perduraram. Enfim todas foram concelhos mas a modernização impôs Mora. Em 1800 haveria em Portugal mais de 4,000 concelhos, o que corresponde + ou - às actuais freguesias. É de notar vários episódios anedóticos, como o de por exemplo ter um paviense ido a Mora por volta de 1865 e trazido documentos de outorga concelhios. Deu-se mal e foi ameaçado de forte sova... Também é de referir a antiguidade das "casas da junta" em Pavia, por certo os mais antigos "paços de concelho" da zona. A bem da verdade a esfera/brasão que lá se encontra é recente. No entretanto as pedras do pelourinho de Pavia desapareceram. Há quem diga que estão nos alicerces da fonte desta vila ,mas eu nos os vi...O "antigo concelho de Mora foi em 1861, restituído à categoria munipal" cito o Prof.Veríssimo Serrão. Pergunto? e antes? onde estava a sede municipal? Tenho para mim que os bairrismos serôdios são sempre maus conselheiros nestas questões. É de referir que foi Fontes Pereira de Melo que praticou uma política desenvolvimentista de maior visão no Portugal da 2ª metade do séc XIX, nomeadamente nos caminhos de ferro. Foi o Conselheiro Fernando de Sousa que "fez" o ramal de Mora, hoje, estupidamente destruído. Era para continuar para Ponte de Sôr. Ficou em Mora. Aqui também a sede concelhia. Autores consultados: Damião Peres( História de Portugal-edição de Barcelos);Serrão,V.;Matoso,J.; vária e documentos pessoais. L.B.

Anónimo disse...

Em adenda à exposição de cima: a Carta Constitucional de 1826, peça fundamental, pelo menos do ponto de vista teórico, para a compreensibilidade do regimen monárquico no séc. XIX são constituidos 4 poderes: o executivo, o legislativo, o judicial e o moderador; este é representado no soberano. É considerada esta situação como um retrocesso e, mesmo para alguns autores, uma posição reaccionária visto ter a Revolução Francesa dividido o poder em três ramos: legislativo, executivo e judicial, com indepência entre si. É de salientar que estes princípios vão informar a ossatura fundamental dos estados/nação, na sua grande maioria, até aos dias de hoje. Tanto monarquias, que predominam no séc.XIX, como depois as repúblicas europeias aparecidas no séc XX na Europa. Note-se que na América do Sul já estavam constituidas várias repúblicas- a Argentina por exemplo, pode considerar-se,do ponto de vista constitucional e quanto ao ponto da divisão dos três poderes como uma república "pura". Assim também o Chile,o Peru, a Colômbia,etc. No que mais interessa á nossa zona diga-se que a Linha de Mora, ( pois era assim chamada, e não Ramal de Mora) foi concluída e creio que inaugurada em 11 de Julho de 1907, pertencendo aos Caminhos de Ferro Portugueses, mais tarde CP. Teve acção muito importante em praticamente todo o séc.XX, no desenvolvimento agrícola, pecuário e silvícola do concelho de Mora. A entrada de fertilizantes químicos no nosso concelho deve-se praticamente à CP. O transporte de passageiros era até 1960, praticamente "monopólio" dela, sobretudo para as idas a Evora e Lisboa. O referido Conselheiro Fernando de Sousa, tornou-se administrador dos Comboios Portugueses em 1898,juntamente com Vasconcelos e Sá e outros. Recomenda-se para a sedimentação do conhecimento da história do concelho a leitura do livro "Mora e o Seu Concelho" do dr. Lopes Correia. L.B.

Anónimo disse...

Como, em história se deve descer ao mais ínfimo pormenor, por verdadeiro aqui fica: a linha de Mora foi inaugurada a 11 de Julho de 1908(e não em 1907, como erradamente disse em cima). Em Abril de 1907 foi inaugurado o troço de Evora a Arraiolos. A notícia desta inauguração consta em acta da sessão da Câmara de Mora de 9 de Julho de 1908. Para Lopes Correia, Pavia foi concelho entre 1836 e 1838; em 1855 é suprimido o concelho de Mora e anexado ao concelho de Montemor.Em 1861 é restabelecido de novo. Em 1863 é aumentada em mais de 2,000 ha a freguesia de Cabeção, á custa de herdades pertencentes ao concelho de Avis. Em 1895 é suprimido de novo agora a favor de Arraiolos de onde regressa em 1898 até aos dias de hoje. O edifício dos actuais Paços do Concelho são inaugurados só nos anos 50 do séc. XX. Tudo isto será enfadonho; tanta data, tanta mudança. Mas a narração histórica não se compadece com a inexactitude. Ou a verdade ou a história derrapa para a lenda. Tem que se agradecer sempre, pelo menos na parte que me toca, o livro fundamental do dr. Lopes Correia. Mesmo este trabalhador incassável por vezes cai em contradição com outros autores, por exemplo Pinho Leal e V.Serrão. Há então que recomeçar tudo com infinita paciência. Parece que Sócrates, talvez o mais sapiente dos homens, andava pelas ruas de Atenas, em pleno dia, com uma candeia acesa. Perguntaram-lhe porquê? Andava à procura da honestidade, ou da verdade, respondeu.L.B.

Anónimo disse...

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